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Capítulo 4 - Nem sei o que falar apenas sentir o que importa é que novas escolhas foram feitas


A desocupação aconteceu logo no início de janeiro, foi um dia tão bosta e eu me sentia TÃO SOBRECARREGADO de tudo o que eu tinha vivido desde que eu saí de casa, de todas as decepções, de todas as expectativas que nunca resultavam em algo bom que foda-se eu optei por me embebedar como eu não me embebedava há um bom tempo, cheguei a fazer umas merdas das quais me arrependo até hoje! tem até uma foto icônica minha com uma mana e o Iuri, onde eu to visivelmente cachaçado de frente pro portão da escola enquanto geral saía. Até minha bengala cuja cabeça era um pato e eu amava (lembrança do Calu) se quebrou nesse dia – não por minha culpa, tentaram furtar parece... e eu não sei o que rolou mas a galera cobrou a pessoa e treta vai treta vem quebraram a bengala tentando recuperar ela; De qualquer forma eu só agradeci. No final dessa tarde estava eu no ônibus com o Iuri a caminho de retornar pro Rio de Janeiro.

Foi só um bate volta, uma semana para estudarmos nossa volta com mais calma a SP, onde e como ficaríamos de fato por lá. Uma nova tentativa de vivermos de nosso sonho, talvez. Algumas conversas pelo Facebook e já tínhamos um norte, íamos cair na casa da Carol Benjamin, mana, mãe, apoiadora nas ocupações, nos hospedou em sua casa por mais ou menos um mês (!), tempo em que eu explorei os vagões do metrô de São Paulo e encontrei neles a possibilidade de manter certa estabilidade financeira, diferente de meu irmão Iuri que se viu tão sobrecarregado quanto eu ainda estava daquelas aventuras e se propôs a ir repousar novamente no Rio enquanto produzia as que vieram ser suas primeiras obras: MMXIV e o 69. Nos separamos no fim de Janeiro se não me engano, nos separamos na linha azul, ele ia pro Rio e eu me mudava pra casa de meus avós maternos.

Sim, se eu não falei, minha família é Paulista e por algumas partes, possuo família em São Paulo, tios, avós, parentes que eu nem sei categorizar mas que tenho carinho apesar de não ter contato com nenhum deles, sou péssimo nisso... talvez seja por eu não ter tido contato, crescido com contato. Fiquei também cerca de um mês lá, tempo em que gravei junto com o Lucas Piero Marques o clipe de “Meu Silêncio” enquanto meus avós viajavam pra visitar a minha família em Recife, eles haviam me proibido de levar qualquer pessoa lá portanto não sabem do feito, tampouco sabiam o quanto a casa deles era simbólica pra mim ou talvez soubessem, eu passava todas minhas férias naquela casa quando vinha para São Paulo e bom, foi um mês tranquilo, toquei madrugadas adentro fumando maconha escondido com metade da cara pra fora da janela aberta – tá louco que eu ia deixar meus avós me pegarem fumando maconha, que fossem os meus pais mas explicar pros meus velhos supremos ia ser lascado demais - e uma toalha embaixo da porta, dava certo e desse jeito, indo madrugadas a dentro, comecei a gravar umas composições soltas e estudar uns covers enquanto descansava a alma e o físico, podendo dormir em uma cama confortável e sendo alimentado por uma avó graciosa que hora ou outra me surpreendia com um pudim ou algum doce que eu amava e ela sabia disso sem precisar perguntar.

O tempo que fiquei foi o suficiente pra que eu conseguisse juntar uma boa quantia e pudesse me mudar pra uma república na Mooca, lembro que minha avó chegou a me dar uma ajuda. Isso foi de março pra abril, convivi com uma moça lá por cerca de um mês, tempo em que produzi o Carmesim com a Theodora Charbel e logo depois fui passar um mês junto de minha família em Recife, foi um mês bem mas estranho, me sentia meio distante de meus pais ao passo em que me sentia próximo, quero dizer, o lance é que parecia que eu havia voltado a ser aquele adolescente na casa de meus pais... não sentia que eles me levavam a sério e nem que eu tinha a moral pra bater de frente com eles sobre a nova forma como eu via tantas coisas... quando eu tentava falar sobre algo que eu havia vivenciado eu sentia que me emocionava toda vez e que as palavras não eram colocadas da melhor forma. Independente disso meus pais também estavam trabalhando muito quando fui visita-los de modo que quase não conversávamos, apenas ficávamos juntos, foi legal também poder ficar mais próximo de minha irmãzinha, dessa viagem talvez esse tenha sido o ponto mais legal. Quanto ao meu relacionamento, infelizmente ele não deu muito certo de modo que na minha volta eu já caí em outra república dos mesmos proprietários cheio dos planos, pronto pro meu segundo álbum.... e assim foi até eu perceber que o tempo começara a se arrastar, o metrô me sugava as energias a níveis que nenhuma carga horária de 10h no shopping tinha feito, a grana ia toda com o aluguel, minha alimentação e o mínimo de maconha... minhas únicas amizades moravam ou na república em que eu vivia ou em uma praça no caminho pro metrô, esses últimos eram extremamente carinhosos comigo se preocupando com minha alimentação, com o meu desempenho nos vagões, eles diziam coisas como “se o vagão não estiver te dando muito dinheiro não precisa pagar aluguel não, joga o colchão aí se precisar a gente te arruma um e você pode ficar conosco, aqui ninguém mexe com a gente não” só me restando agradecer enquanto dividíamos o corote ou apertavamos mais um baseado pra acompanhar nossas jogatinas de dominó ou mais um pagode ressuscitado na minha viola por uns dos brothers (dos vulgos eu fico triste de apenas lembrar do Carioca e do Ratinho).

Com o tempo se arrastando comecei a pensar novamente ser incapaz; Minha consciência política, de recortes, classes, disparava minhas contradições contra mim mesmo ao passo em que eu questionava tudo e todos a minha volta, ás vezes imergindo em um misto de ódio e tristeza, eu me via depressivo com dias baseados em apenas ficar deitado na cama. Era comum conhecer artistas, músicos em estado de rua (dois dos cinco que moravam na praça e fechavam conosco já fizeram parte do meio, um do pagode o outro do samba) e parecia fazer muito sentido que eu fosse parar lá, e eu não estava nenhum pouco afim de vivenciar as ruas, a vida daquela maneira. Quem afinal estaria?

Uma noite qualquer, amigos da banda Molodoys me convidaram para ir na “Casinha”, pico do “Grande Grupo Viajante” também ali na Mooca – onde eu vivia - comer um hambúrguer vegano e foi lá que tive o prazer de reencontrar um rapaz lá dos tempos de Sorocaba, na época em que eu tocava com a Look!Strangers, Rodrigo Zalcberg. Ele ouviu meu som e me convidou para colar no porão que ele tinha na “Casa Barco”, mais tarde ele me chamou pra tocar na “Mil Pássaros Dançando” e quando fui ver, eu estava mergulhando no Maracatu, aprendendo o que eu podia para ser com responsa o novo alfaiero do rolê. Nesse período eu sentia ainda mais saudades de Recife e de todo o Nordeste.


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