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2015 – Capítulo 2 “VAI NA FÉ E NÃO NA SORTE”


Cheguei no Rio no dia 23 de maio. Conheci o Iuri pessoalmente no aeroporto e o Geovani (Martins) logo depois quando chegamos no “Calu” (lê-se Caleidoscópio Lunar) -

Falemos agora do Caleidoscópio Lunar:

Aquele lugar era mágico e a fase em que vivemos naquela casa foi, eu acredito, que essencial para todos nós dado ao aprendizado que tivemos do começo ao fim dentro de casa e fora dela.

A casa ficava no morro do Itanhangá um pouco antes de chegar no Rio Das Pedras, mais especificamente numa vilazinha que tinha início na estrada e ia até uma espécie de pântano. Sempre a deixávamos aberta, o local não nos oferecia perigo e sentíamos paz e tranquilidade em viver dessa forma. Subindo uma estreita escada descoberta após passar uma portinha preta na vila se chegava até a varanda da sala, por assim dizer, dessa varanda, assim como da laje e do quarto ao lado se podia ver um morro que hoje não lembro o nome se é que já um dia soube mas que era fascinante e me hipnotizava por horas em alguns dias, ainda mais nos meses que logo se passaram. Tinha manhãs e entardeceres que as nuvens cobriam esse morro – que na verdade mais parecia uma montanha – sempre ornados pelos raios do sol como um véu de noiva que se chacoalhava com violência deixando restos de plumas brancas, douradas e alaranjadas escaparem de suas pontas, o morro do Itanhangá tal como o Rio de Janeiro é um espetáculo natural. A sala era simples, um sofá pequeno, acho que tinha uma tvzinha, uma estante com um toca disco, daí depois tinha o corredorzinho, a cozinha que era uma delícia com janela pra vila, tinha transições de luz – assim como toda a casa – que vazia o cômodo ter uma aparência milenar em conjunto com toda aquela mata em volta, trazia calma, tudo naquela casa trazia calma e paz.

Tinha um quarto no fundo, inicialmente ocupado pelo Cris, irmão do Gê e do Iuri e logo com minha chegada, meu também! ator maravilhoso, amigo ainda mais! Se mudou no terceiro mês, creio eu e desde então pouco tivemos contato... ocupamos o cômodo com sua saída e desse quarto se estendia o banheiro, bem simples, se eu não me engano o chuveiro esteve sempre quebrado, se eu não me engano... e uma minúscula área de serviço meio varanda também que dava pra vila e era um cômodo mó interessante apesar de ser pequeno e de usarmos ele pra lavar roupa de modo que ficava sempre abarrotado de roupa lá, seca, molhada, pano de chão embolorada pelos cantos... Lembro que sobre a máquina havia uma lâmpada amarela pendurada de um buraco do teto pelos fios que brilhava de um jeito meio fraco mas muito específico e de alguma forma sempre me atraia muito, era belo de se ver. Do corredorzinho lá atrás, ao lado da cozinha e antes de chegar no quarto do Cris, a direita surgia uma escada em caracol de concreto, subir pela manhã logo após acordar e descer no escuro antes de dormir era sempre um desafio cabroso, ainda mais quando chovia e tava tudo molhado – vale mencionar que a casa era a câmpea do morro em infiltração, pelo amor – mas eu gostava bastante dela e da lage do Calu que se encontrava no final dessa escadinha. Era lá que a gente sempre fumava um logo ao amanhecer, normalmente o Gê era o primeiro a acordar e quando a gente tinha maconha ele já apertava e dava um gritão na casa que levantava um, normalmente o Iuri, que já levantava eu, o Berg e assim sucessivamente, dividimos muitos bons momentos na laje e na real que pelo Calu inteiro! não somente entre nós também, moradores mas com nosso círculo de amizades que estiveram conosco ao longo dessa fase entre idas e vindas. Por ultimo mas justamente por ser o quarto mais especial, havia o quarto ligado com a sala, o primeiro quarto a partir do momento que entrava de fato na casa, nele haviam pôsteres do Gilberto Gil, Hendrix, Vinicius De Moraes, Chuck Berry, do Hendrix tinha até um quadro com o retrato dele, o Iuri se amarra demais no Jimmy. Tinha duas janelas, além de umas bem finas e compridas, altas que eu achava bem legal pela luz que permitia impedir ou permitir que entrasse no quarto e pelo próprio formato. No terceiro mês uma das duas janelas “principais” que ficava voltada para a parte da casa que dava pra escada e pra entrada, quebrou e ficou meio que pendurada, deixando um vão em nossa parede que fechamos com umas cordas e a própria janela quebrada. Nesse quarto havia uma biblioteca, junto com vários vinis fodas e o nosso simples homestudio.

Continuando sobre minha chegada - começamos com calma, ou nem tanta, acho que falei de fazer um vídeo ou coisa do tipo e gravamos um vídeo mó engraçado, o Geovani aparece rapidão, dá um salve, eu toco uma música louca lá que eu fiz acho que pra minha família e bom, feito isso, a gente para o vídeo, ri e sem nem sair do lugar apertamos um baseado.

Eu já tinha fumado mas o tinha feito menos de 10 ou 15 vezes na vida, eu acho, não sei... pelo menos de certo eu tinha fumado ao longo do último ano coisa de um ou no mais dois baseados por mês e enfim, papo é que eu nem aguentava chegar até o fim do baseado mas eles falavam por entre as risadas e assuntos que se eu tava na roda eu tinha que ir até o fim e eu senti como se um pacto estivesse sendo selado ali e já é, “resisti” – com algumas reclamações – fumar o beck inteirinho junto com eles.

Maravilha.

Apesar de não ser uma coisa boa de se fazer com os outros eu agradeço aos hábitos dos meninos pois passei com o tempo a desenvolver uma relação com a maconha totalmente diferente do que eu já tinha e que por sua vez me acompanha até hoje, vimos um filme nesse dia... algum clássico, o Geovani sabia escolher uns bons filmes, “The Dreamers”, “Dogville”, entre outros ainda melhores... foi ele que inclusive me apresentou “Febre do Rato” e “Amarelo Manga” que faz parte do cinema Recifense. Chapados, assistíamos à muitos bons filmes na sala do Calu.

Lembro também de dois dias depois de minha chegada no Rio de Janeiro estar jogando Tarô pela primeira vez na vida com a Camilla de Mari, uma voz marcante em minha vida e uma irmã. Perdi a foto do meu primeiro jogo, deve ter sido bem importante, sinto que um dia vou voltar nas minhas memórias de alguma forma só pra reviver aquele momento e poder tirar a foto novamente, ou armazenar toda a vivência e obter alguma informação solta em meu passado. Uuuuh.

Tínhamos um homestudio bem simples no Calu, com um mac do Iuri de na época uns 4 anos de idade, topster ainda assim, uma M-audio máster simples e um condensador do mais simples da Behringer também mas o que foi um início com paciência passou a ser uma real dificuldade para pararmos e construirmos juntos todos os sonhos que tínhamos...

Nós não gravávamos, eu não tinha composições novas e trabalhava de 8 a 11 horas por dia ainda no shopping Leblon - eu não mencionei mas um dos fatores que me ajudou a ir pro Rio, facilitando até em tranquilizar meus pais quanto a minha ida, foi transferir meu emprego de Recife pra cá - para só depois de pegar o busão lotado e fazer a viagem do século, poder chegar exausto em casa. Se em Recife eu só jogava no pouco tempo livre que eu tinha no Rio eu não fazia muito diferente, foi assim por algum tempo.

Os moleques (Iuri e Gê) gravavam um rapper chamado Ão; ele costumava pagar os meninos com doce (lsd), lembro como era interessante ir dormir na sala ouvindo-os discutir cada detalhe de suas gravações, assim como a necessidade dele incorporar e trazer a tona os sentimentos envolvidos junto com sua própria voz. Foi em uma dessas noites que tomei meu primeiro ácido. Queria ter uma foto da minha cara quando após gladiar contra mosquitos dragões enquanto tentava dormir - pois havia de acordar em 3 horas ou menos para ir ABRIR a loja no Shopping Leblon e caso não o fizesse e atrasasse coisa de 10 minutos a loja recebia uma multa de alguns milhares – não que eu me importasse mas responsabilidades né eu levantei e entrei nos quarto em que os meninos estavam gravando o Ão, puxando minha testa junto com meus cabelos em direção a nuca como se pudesse juntar os dois em uma coisa só nas palmas de minha mão:

- tá fritando? – disse um dos meninos - fritando? Que? Eu não. *com uma angústia interna nada discreta e realizando o movimento descrito*

Com 3 meses no Calu nossa galera havia aumentado, isso por conta da chegada do Pedro Bergman que morava perto e trabalhava num bar também próximo, violinista e uma figura muito querida, passou a frequentar tanto o Calu que não demorou para que se mudasse pra lá, assim como o João Souza que era o único de menor do rolê e que também morava ali próximo, não morava conosco mas era como se morasse devido a frequência. Dois queridões. O lance é que observamos que de fato não estávamos sendo produtivos e na verdade, pouco (ou não quanto gostaríamos) explorávamos o que poderíamos construir coletivamente principalmente por conta do constante cansaço físico e mental proveniente de nossos empregos e assim, decidimos radicalmente cortar toda relação externa que pudesse nos atrapalhar de nos focar no que realmente estávamos ali pra fazer: arte.

Uma vez saído de nossos empregos, começamos a ir pra rua trabalhar ao passo que conhecíamos e/ou explorávamos nossas capacidades e não demorou pra começar a... dar errado, foi um desastre na realidade. Cordas estouravam nas primeiras canções, reparávamos que muitas das pessoas não estavam nem aí e até mesmo os comerciantes preferiam que tocássemos covers clássicos e conhecidos ou que simplesmente nos calássemos para não ser mais uma voz a competir por atenção dentre as chamadas de venda dos mais diversos produtos.

Em uma síntese, eu posso dizer que ao longo de toda minha fase no Rio de Janeiro eu tive vivências que me aproximaram muito mais da realidade do que as que eu estava tendo nos anos anteriores. De modo que se um dia imaginei que sair de casa seria conhecer simplesmente novas pessoas e paisagens... sei lá, quase que como em um filme “Into The Wild” ou coisa parecida eu dei de cara no muro quando na “Cidade Maravilhosa” percebi que o mundo era uma real barbárie com toda uma realidade escondida, maquiada por trás de nossos círculos sociais, rotinas tendo a mídia como principal agente direto, silencioso e extremamente eficaz em perpetuar esse padrão. Isso ao passo que milhões de pautas e movimentos (LBGT+, feministas, pretos e pretas etc etc) pipocavam nas redes sociais e ocupando espaços principalmente nos rolês relacionados a arte! Passou a ser nítido para mim que há uma realidade imposta para todos nós que por sua vez nos ilude de todas as demais realidades.

Aproveito também deste espaço, ainda que pequeno para denunciar o que todos vêem todos os dias no jornal pelas vozes erradas, cenas que se passam no Rio de Janeiro, no sertão Nordestino nos terreiros, e em TANTOS outros lugares: a marginalização, criminalização e o genocídio do povo negro. Genocídio. Gente morrendo aos montes mas não como em uma revolução ou uma guerra e sim de forma programada, estudada, arquitetada e executada com grande cuidado e controle ao longo de anos e anos. Era nítido em cada operação na Rocinha que pasme parava TODO o bairro de São Conrado como se fosse zona de guerra ou em cada revista racista nas ruas do Leblon onde se colocava contra o muro 2, 3, 5, 6, quantos estivessem juntos, meninos e meninas pretas em sua adolescência que só desceram do morro para ir pra praia, ás vezes os mesmos já eram tirados de dentro do próprio ônibus antes mesmo que pudessem chegar à ela. É nítido nos números e em todos os lugares. A gente ignora, estamos acostumados a isso ou melhor, condicionados a isso, tomemos como exemplo ainda mais vergonhoso e infeliz os povos indígenas sendo massacrados em nossas matas e fora delas, estamos assistindo sua extinção. Gostaria que isso fosse uma pergunta.

Eu vivi e vi muita coisa e já não sou mais capaz de voltar atrás. Nesse mundo ilusório em que todos estamos condicionados a viver algo praticamente linear, eu vejo pais que fazem de tudo por seus filhos e que erram como todos que vivem pressionados por algo o tempo inteiro, que vivem em gaiolas, sob as imposições diárias de uma sociedade adoecida... somos seus filhos. Eu estou ficando velho mas passei a crer em um amanhã bem diferente do que vivemos hoje.

Voltando ao Rio - O lance foi que no quinto mês já não tínhamos mais grana para quase nada ou nada, eu já tava entrando em débito no Itaú hoje eu devo ter uns 8 mil negativos que foram se acumulando juros sob juros, sério, se você não tem uma conta bancária e ainda se verá diante da necessidade de fazer uma, faça uma em um banco online ou não faça e use só dinheiro, peça pros outros usarem seus cartões pra comprarem coisas pra você mas não faça conta em um banco convencional, principalmente se você tiver transitando por uma fase louca como essa minha foi. Por sorte com a conta parada uns anos esse débito se anula, algo assim, nem fui atrás porque eu sou muito responsável. O último a gastar o ultimo centavo se não me engano foi o Iuri porque ele ainda recebeu uma rescisão do trabalho ou um ultimo salário. Com exceção dele não tínhamos dinheiro para pegar um ônibus, a casa que tinha 2 quartos não comportava bem as 6 pessoas que conviviam agora juntas diariamente na casa, afinal, havíamos recebido mais um irmão: Raphael Horsth que é uma figura que até hoje sinto necessidade de reencontrar como todos na verdade né pelo brilho que carrega consigo. Ele é saxofonista, pintor, guitarrista, o moleque é tudo e mais um pouco na realidade, principalmente um grande amigo

Tava lembrando de um dia que ele ficou bem bêbado e ficou andando pelado pela casa e daí em um certo momento a gente tava vendo filme ele atropeçou do nada e caiu atrás da gente de cara no chão e cortou a boca, foi hilário.

mas enfim, por conta dessa superlotação dormíamos no chão, nos alimentávamos muito mal, ás vezes menos do que uma refeição diária, nos sentíamos atrofiados e nossa própria convivência parecia nos pesar cada dia mais; O homestudio já havia parado de funcionar ainda no terceiro mês! justo uma semana depois de todos nós sairmos de nossos empregos! E tudo devido a um problema na entrada de USB do notebook do Iuri – ele deixou uma banana entrar na entrada enquanto carregava os dois na mochila, é isso, falei – e por essa e outras, nesse período as poucas composições bobas que eu fiz na época boa parte em inglês se perderam em meio a tantas lembranças... até porque o meu notebook – muito massa - pifou também, só coisa boa gente.

Mas beleza, Formamos uma big band com geral de dentro da casa e algumas amizades de fora (a Camilla de Mari, que realizara o Tarõ comigo assim que eu chegara, o Alan Miranda, ser mais poético e charmoso que eu já conheci e o Henrique Suwi que é outro brother foda e que eu guardo um carinho enorme!). Conseguimos um show com algum cachê - 100 conto, 125, para 8/9 pessoas, algo assim... essa é a vida do artista que tá começando, muito luxo, inclusive é foda marcar um rolê, se desse pra marcar 10 shows em um fds pelo menos nóis tava feliz mas marcar um já é um baita sacrifício, enfim - e dado o evento, optamos por ficarmos uma semana juntos no Calu em 9 pessoas convivendo, ensaiando e fumando vários o que descobrimos da pior forma ter sido um grande incômodo para os nossos vizinhos pois sem espaço para conversa dei de cara com três homens armados em nossa sala em uma tarde qualquer onde havíamos apenas eu, o Iuri e o João (o único menor do rolê) em casa, justo na hora que a gente tava apertando um beckão e bom... sob ameaças de que seríamos levados para o pântano que havia próximo de nossa casa e de que quebrariam e sumiram com todas nossas coisas tivemos de aceitar que ali não poderíamos mais nos dedicar ao que amávamos fazer e tampouco poderíamos ser quem somos, com nossos hábitos e gostos; Alguns dias depois, mesmo com o nosso primeiro show tendo sido empolgante, não conseguimos contornar a bad de viver em um espaço que nos aprisionava, agora que nossos (ou nosso, em particular o de baixo) vizinhos passavam a nos tratar como criminosos, com respostas curtas, rápidas, sem olhar nos olhos mesmo quando dávamos um “bom dia” animado ou perguntávamos algo corriqueiro e de forma educada...

O fim do Caleidoscópio Lunar não foi uma transição elaborada mas era cada dia mais triste ver aquele organismo que outrora serviu de pilar pra que tentássemos alcançar juntos nossos sonhos se atrofiar cada vez mais. Nesse fim de ciclo o Iuri passou a namorar a Jessie que se tornou assim que nos conhecemos uma grande irmã cada dia mais querida para mim e graças a esse relacionamento surgiu a possiblidade de nos mudarmos para o apartamento dela e eu vi aquilo como um toque da vida para não desistir e pelo contrário, persistir que uma hora ou outra algo iria acontecer e eu me encontraria um passo mais próximo de reconquistar minha própria autonomia junto com meus objetivos artísticos.

Nos mudamos para o apartamento dela que ficava na época num bairro chamado Parada de Lucas (risos) no cu do mundo em um lugar que a gente chegava por trem mas que claro, nos hospedou como um paraíso, um paraíso feito de um misto de felinos fofos e pulguentos, lentilhas, maconha, haxixe, brigadeiro e Beatles.

Nossa convivência era leve para mim, eu aproveitei a época para ler e escrever aproveitando a calmaria daquela estadia, com certa ingenuidade talvez mas sempre questionando e refletindo sobre minhas escolhas. Era um privilégio poder ser acolhido e ter ainda por cima meu próprio espaço, tal como dividir ele com metade dos gatos da Jessie durante a noite o que era fofo e doloroso ao mesmo tempo já que eles tinham de beleza e fofura o que tinham de pulgas.

Nessa época compomos músicas que também ficaram soltas e vivemos coisas incríveis em lugares que ficaram marcados em nossas vidas – como o viaduto onde íamos fumar maconha em baixo ou o caminhão, onde também íamos fumar maconha por entre a cabine e a carreta. Foi assim por pelo menos um mês até nos mudarmos para a casa acima da casa da vó do Iuri que ficara vaga no Parque da Cidade, comunidade que fica na parte de trás do morro da Rocinha e onde o Iuri nasceu e cresceu.

Nos reestruturamos, minha família me ajudou a conseguir uma interface nova e a família do Iuri o presenteou com um notebook simples, família esta que pelos meses seguinte me acolheu como um filho, como o próprio Iuri. O foda foi que nesse momento estávamos exaustos, as canções que eu fazia não me pareciam significativas, eu ainda não compunha junto com o Iuri e tampouco ele comigo, gravar então, sem chance, minto, chegamos a gravar umas brincadeiras juntos, produzimos até o lyric vídeo de “Don’t Run Away” em uma das noites em que eu estava mais doente e cagado, teve até um cover de “Amigo Estou Aqui” do Toy Story que gravamos toda pelo celular, foi tudo super divertido apesar das circunstâncias.

Não era apenas nós que estávamos bagunçados mas nossos instrumentos estouravam corda regularmente e com que dinheiro compraríamos novas? Portanto era bem comum apenas um violão ter corda e mais comum ainda estar faltando nos dois; aos poucos nos víamos imersos em uma profunda depressão perdendo cada dia mais o controle de nossas vidas. Apesar de nos ver artistas, nos sentíamos como fardos para nossas famílias, era como se estivéssemos nos matando e naquele ponto, eu acho que só não voltei para casa pois tinha vergonha, meu orgulho não me permitia realmente ser esse fardo para minha família que também se via em uma situação nada fácil, só não era mais doloroso do que me ver dependendo da família do Iuri que também era muito humilde apesar do grandíssimo coração.

Aprendi muito do que é uma família ao ver como a família do Iuri se relacionava, eram primas, primos, tios, tias, avó, mãe, tudo num vai e vem, parecia que sempre tinha algum parente do Iuri pra eu conhecer e isso me fazia sentir ainda mais falta de minha família e de me sentir próximo a ela. Com o passar dos meses, agora por volta de outubro já, quase novembro, estávamos tão sobrecarregados e nos sentindo tão contrariados por aquela vida que não condizia em nada com o que sonhávamos que passamos a discutir com frequência por coisas idiotas e eu ficava cada vez mais inclinado a acreditar que toda aquela experiência estava chegando a um fim...

Até que...

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